segunda-feira, 20 de setembro de 2010

"Não tenho culpa se meus dias têm nascido completamente coloridos.
Simplesmente quando acordo decido que quero ser feliz,
mas alguns ainda cismam em querer borrar minhas cores.
Muito menos tenho culpa se o meu sorriso é verdadeiro,
espontâneo e acontece por motivos bobos, mas especiais para mim.
Não tenho culpa se meus passos nem sempre são firmes.
Eu não sou perfeita.
Eu tropeço e caio de vez em quando, na verdade, caio bastante e isso não me machuca.
Tenho certeza que a cada tombo eu consigo levantar sempre mais forte do que antes.
Meus olhos tem tido um brilho bem mudado ultimamente.
- E se tem!
E brilham diferente a cada dia.
E começo a me preocupar pois tenho medo da velocidade dessas alterações...
E no meu mundo está mais lindo e completo.
Não consigo entender a existência de algumas pessoas.
Mas o mundo não é dos mais justos mesmo... Compreendo.










Tenho bastante lápis de cor e várias pessoas com bastante deles também com quem pintar juntos.
Pra quem quiser pintar um pouco mais de alegria na vida,
empresto mais que prontamente os meus,
basta me chamar e vou ao seu encontro!
Empresto.
Mas, por favor,
Não tentem borrar os meus dias.
Eles já estão ótimos pintados da cor que estão...''

domingo, 19 de setembro de 2010



Da Agência Educação Política
Segundo um estudo realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 20% dos brasileiros não conseguem compreender textos, enunciados matemáticos e estabelecer relações entre assuntos, apesar de saberem ler e escrever, ou seja, são analfabetos funcionais.
O problema do analfabetismo funcional tem se tornado cada vez mais grave no Brasil e a saída para resolver essa questão passa por dois eixos principais segundo a pesquisadora da UNESP (Universidade Estadual Paulista) Onaide Correa de Mendonça: a revisão e reformulação dos métodos de aprendizagem ainda na fase inicial da escolarização e a valorização e capacitação dos professores.
O último item é ainda mais importante que o primeiro, já que de professores bem capacitados decorre a boa aplicação e a descoberta de eficazes métodos de ensino. O problema da educação no Brasil, seja ele em qualquer um dos níveis, não será resolvido sem bons professores. Uma escola se faz com bons professores. De nada adianta ter uma ótima infraestrutura, computadores, equipamentos de ponta, mil e uma atividades extracurriculares se o professor não for bom.
O professor tem um papel chave não só na educação escolar, como também na educação para a vida. Um professor forma não só um aluno, como também um ser humano. Em muitos casos, ensina como o aluno pode pensar, olhar a realidade, como pode construir seu papel no mundo e na sociedade.
O Brasil precisa redescobrir essa figura tão importante e crucial que é a do professor. Encontra-se nele, e apenas nele, a capacidade de fazer com que outros possam escrever, entender e pensar o mundo!
Analfabetismo funcional alto mostra fracassos na educação, diz pesquisadora
Rede Brasil Atual
Suzana Vier
São Paulo – O alto índice de analfabetismo funcional no Brasil detectado pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad 2009), divulgada na quarta-feira (8), é resultado de problemas no início da escolarização. A análise é da professora Onaide Schwartz Correa de Mendonça, coordenadora do curso de pedagogia da Universidade Estadual Paulista (Unesp) de Presidente Prudente (SP).
Segundo o estudo realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 20% dos brasileiros não conseguem compreender textos, enunciados matemáticos e estabelecer relações entre assuntos, apesar de conhecerem letras e números.
A Pnad também detectou que a taxa de analfabetismo está em queda no país, especialmente na região Nordeste. Desde 2004, a taxa caiu 1,8% em todo Brasil e 3,7% nos estados nordestinos. Entretanto, 14,1 milhões de brasileiros com 15 anos ou mais permanecem sem saber ler e escrever. Os números da pesquisa demonstram que a educação básica, de responsabilidade de estados e municípios, não anda bem. (Texto Completo)



sábado, 18 de setembro de 2010

UM POUCO DE HISTÓRIA

A “democracia coroada” e a experiência dos Conselhos
Está se tornando lugar comum nos remetermos aos 21 anos em que o Brasil viveu sob a última onda ditatorial – nos anos compreendidos entre o golpe militar, impetrado em 31 de março de 1964, e a “redemocratização” de 1985 – para explicarmos todas as mazelas sociais, políticas e econômicas do nosso país. É lugar comum também usarmos frases de efeito como “o povo não sabe votar” ou “precisamos reaprender a democracia”...
Se deixarmos de lado o senso comum, e tentarmos historicizar um pouco a questão, veremos porém que há muito mais ditadura do que democracia na história republicana e, ao contrário do que a história oficial apregoava, até há bem pouco tempo atrás, um longo período de construção da democracia participativa, sob o manto imperial, ou seja, uma tentativa de consolidação da “democracia coroada”, aos moldes da democracia inglesa ou espanhola, no período monárquico.
O que a proclamação da República consagra é a evolução natural do sistema capitalista, pela via da superação das relações de produção e estruturas políticas pré-capitalistas, e não a “evolução” da democracia. Há de se fazer a distinção das duas instâncias, ou seja, infra-estrutura econômica e superestrutura ideológica.
O senso comum, do brasileiro médio, de que é “natural” que a República suceda ao Império, perde completamente o sentido se lembrarmos alguns exemplos históricos concretos.
Em Roma, o Império vem logo após o assassinato de Júlio César – cometido, como sabemos, em nome da manutenção do sistema republicano, e pelos próprios senadores – e, portanto, o Império sucedeu à República. Os próprios “imperadores” não adotaram jamais o título de “imperator”, mas sim o de “princeps civitatus” (primeiro cidadão) para, desta forma, manter uma continuidade conceitual em relação ao período republicano.
Muito embora o Senado Romano tenha sempre representado os interesses dos patrícios – camada aristocrática da sociedade – foram instituídos, após o reforma dos Gracos, os Tribunos da Plebe, que defendiam os interesses das camadas populares, os plebeus. Desta maneira, o Senado romano, especialmente após esta reforma, adquirira a feição de um conselho, um colegiado: estavam ali representados vários segmentos que compunham a sociedade romana como os latifundiários, os militares, os novos-ricos (libertos) e os defensores do povo.
Ainda assim, o leitor pode sabiamente argumentar se houve de fato democracia na antiguidade greco-romana, já que estes povos viviam sob o modo de produção escravista. É Perry Anderson quem diz;
Foi pois precisamente a formação de uma subpopulação escrava nitidamente demarcada que, por contraste, elevou os cidadãos das cidades gregas a níveis de liberdade jurídica consciente até então desconhecidos. A liberdade e a escravatura helênica eram indivisíveis: cada uma delas era condição estrutural da outra, num sistema diádico sem precedentes ou equivalentes nas hierarquias sociais dos impérios orientais, que ignoravam por igual a noção de cidadania livre e a de propriedade servil. (ANDERSON 1980, in: PINSKY, 1980, p. 105)
Ao que Charles Parain contemporizaria, ao demonstrar que as relações entre as classes estavam longe de ser amistosas:
A história grega, a história romana são marcadas e se caracterizam a cada momento pela existência de antagonismos sociais e de lutas de classes que não determinaram somente o curso da história política. Toda a fisionomia das civilizações foi modelada contemporaneamente pelo conteúdo desses antagonismos e pela forma que assumiram.
(...)Enquanto Atenas não conheceu verdadeiras revoltas de escravos, em Roma, uma vez alcançada a transformação econômica e social, as revoltas de escravos começaram a multiplicar-se, a partir de 217, depois em 199, em 196, em 185. Em 185, na Apúlia, cerca de sete mil escravos foram executados durante uma repressão brutal e por demais significativa. (PARAIN 1963, in: PINSKY, 1980, pp. 255-256)
Séculos após o final do mundo clássico, na Inglaterra, durante o período de transição do modo de produção feudal para o “mercantilista” (capitalismo comercial), houve uma experiência republicana, entre 1649 e 1660: o “protetorado”. Entre 1649 e 1658 o país foi governado por Oliver Cromwell, que tinha o título de “Lord Protetor”.
Inversamente proporcional ao que acontecia na Roma Imperial, quando os imperadores usavam um título oriundo da República, na Inglaterra o título do governante era oriundo da monarquia: Lord (Senhor). Após o relativamente curto período do protetorado, o país retoma o regime monárquico, consagrado pelo sistema parlamentarista, o qual foi implementado na íntegra após a Revolução Gloriosa de 1688.
O Parlamentarismo, como sabemos, é um sistema político que se lastreia na prática de um grande conselho, um colegiado. No caso inglês é composto por duas casas: a câmara dos comuns (plebeus) e a câmara dos Lordes (aristocratas). Neste sistema, o rei “reina mas não governa”, já que o chefe de Estado é o Primeiro Ministro, ou seja, o chefe do gabinete (genericamente, o presidente do Conselho).
Também na Espanha, em época muito mais recente, a ditadura republicana do general Franco foi substituída pela monarquia parlamentar do rei Juan Carlos (1976), sendo que, neste país, a monarquia é sinônimo de democracia.
No Brasil o período republicano se inicia exatamente com um golpe militar, uma quartelada. Os dois primeiros presidentes eram militares: Marechal Deodoro da Fonseca (1889 a 1891), Marechal Floriano Vieira Peixoto (1891 a 1894), o “marechal de ferro”. Getúlio Vargas governa como ditador, sem constituição, de 1930 a 1934 e depois novamente, sob o Estado Novo, de 1937 a 1945. Finalmente, há a ditadura militar propriamente dita, de 1964 a 1985. Contabilizando o total de anos em que o Brasil esteve sob o jugo ditatorial, durante a fase republicana, temos 38 anos.
Se, além dos períodos ditatoriais propriamente ditos, acrescermos a esta soma todos os anos compreendidos entre 1894 e 1930, a época da “República do café com leite”, quando o voto era aberto, os coronéis controlavam os seus “currais eleitorais”, impondo o “voto de cabresto” e predominava a “política dos governadores”, chegamos a 74 anos sem democracia!
A fase Republicana dura 117 anos. Se retirarmos os 74 anos sem democracia, veremos que só restam 43 anos!
O Parlamentarismo existiu no Brasil desde a emenda de 1847 até 1889, portanto por 42 anos. Mantidas as proporções (já que o Império se inicia em 1822 e termina em 1889, portanto, 67 anos) veremos que quantitativamente, existiu muito mais tempo de democracia no Império (62,7 % do tempo total do Império) do que na República (36,7% do tempo total da República).
Qualitativamente podemos afirmar que a “democracia coroada” teve a virtude de dar aos conselhos, enquanto representativos de vários segmentos da sociedade, papel de grande destaque: em 1822 é o Conselho de Estado que a princesa Leopoldina consulta e, como resultado desta consulta, encaminha ao príncipe D. Pedro a diretriz de declarar a cisão em relação ao governo português. Em 1871 a princesa Isabel, regente do Império pela primeira vez, jura lealdade à constituição diante deste mesmo colegiado, acrescido do Senado e da Câmara.
O Parlamento do Império, a exemplo do que acontece até hoje nas democracias coroadas da Europa, era uma espécie de grande conselho, chefiado pelo presidente do Conselho de Ministros. Nunca houve uma centralização muito grande de poderes nas mãos do monarca, ao contrário do que acontece com os presidentes da República, detentores que são do poder executivo:
[...] não se pode acreditar na idéia da centralidade absoluta do Estado e do imperador. Na verdade, a maior parte das grandes decisões da política nacional eram tomadas pelos representantes do Executivo e do Legislativo, além dos Conselheiros de Estado, ministros, senadores e deputados.
[...] Em 1847, com a introdução da figura do presidente do Conselho, d.
Pedro II passou apenas a indicar o presidente, que, por sua vez, nomeava os demais. (SCHWARCZ, 1999, p. 119)
E ainda:
[...] No Império dos bacharéis a política escapou-lhe das mãos e restavam-lhe, nesse momento, os troféus que a Coroa concedia. Como disse Holanda,o império dos fazendeiros [...] só começa com a queda do Império. (SCHWARCZ 1999, p.193)
Havia então uma ligação intestina entre a corte e as camadas populares da sociedade: o poder emanava do Paço Imperial, próximo ao porto e ao mercado, ao cheiro das ruas e às danças dos negros. Nos sábados havia “batuque” no paço e o imperador recebia, para o “beija mão” (ritual herdado da corte portuguesa) entre outros, o Rei Obá II, rei negro a quem havia sido conferida a patente de alferes do exército brasileiro, para lhe garantir um soldo.
Como tem revelado as pesquisas mais recentes do historiador Eduardo Silva, não apenas a princesa Isabel, herdeira do trono, era abolicionista confessa (tanto que comparecia aos compromissos oficiais com o vestido adornado por camélias, símbolo da luta contra a escravidão) como também tinha um projeto de reforma agrária, para garantir um pedaço de terra aos escravos recém-libertos.
A Princesa Isabel também protegia fugitivos em Petrópolis. Temos sobre isso o testemunho insuspeito do grande abolicionista André Rebouças, que tudo registrava em sua caderneta implacável. Só assim podemos saber hoje, com dados precisos, que no dia 4 de maio de 1888, “almoçaram no Palácio Imperial 14 africanos fugidos das Fazendas circunvizinhas de Petrópolis”. E mais: todo o esquema de promoção de fugas e alojamento de escravos foi montado pela própria Princesa Isabel. André Rebouças sabia de tudo porque estava comprometido com o esquema. O proprietário do Hotel Bragança, onde André Rebouças se hospedava, também estava comprometido até o pescoço, chegando a esconder 30 fugitivos em sua fazenda, nos arredores da cidade. O advogado Marcos Fioravanti era outro envolvido, sendo uma espécie de coordenador geral das fugas. Não faltava ao esquema nem mesmo o apoio de importantes damas da corte, como Madame Avelar e Cecília, condessa da Estrela, companheiras fiéis de Isabel e também abolicionistas da gema. Às vésperas da Abolição final, conforme anotou Rebouças, já subiam a mais de mil os fugitivos “acolhidos” e “hospedados” sob os auspícios de Dona Isabel.
André Rebouças, o intelectual negro de maior prestígio da época, fazia uma ponte entre o esquema de fugas montado pela Princesa, em Petrópolis, e o alto comando do movimento abolicionista, no Rio de Janeiro: o pessoal da Confederação Abolicionista, Joaquim Nabuco, Joaquim Serra, João Clapp, José Carlos do Patrocínio.
O quilombo de Petrópolis, o quilombo do Leblon ou o quilombo do Jabaquara são quilombos abolicionistas, isto é, fazem parte já do jogo político da transição. Para o modelo anterior, o quilombo rompimento, o melhor exemplo será sempre o de mocambos guerreiros como o mocambo heróico de Acotirene; o mocambo de Dambrabanga; o mocambo de Zumbi; o mocambo do Aqultume, sua mãe; o mocambo de Andalaquituche, seu irmão; a Cerca de Subupira; a Cerca Real do Macaco e toda a confederação a que chamamos Palmares.
Com a proteção do Imperador, felizmente, o quilombo do Leblon nunca chegou a ser investigado, continuando a Princesa a receber calmamente os seus ramalhetes de camélias subversivas. E com isso, como se pode imaginar, crescia barbaramente o poder simbólico das camelliaceas dentro do movimento político, sobretudo das que pudessem ser identificadas como “camélias do Leblon” ou “camélias da Abolição”. Na guerra simbólica que se instaura, uma ou outra vez, a Princesa ousou aparecer em público – o que era sempre notado pelos jornais – com uma dessas flores do Leblon a lhe adornar o vestido. O simbolismo estará presente até na hora da assinatura da lei, quando aproximou-se da princesa o presidente da Confederação Abolicionista, João Clapp, e lhe fez entrega, solenemente, de um “mimoso bouquet de camélias artificiais”. E, logo em seguida, quando aproximou-se também o imigrante Seixas, honrado fabricante de malas, que passou às mãos da Princesa um outro belíssimo buquê de camélias. Desta feita, contudo, camélias naturais, vindas diretamente do quilombo do Leblon. (SILVA, 1999)
Houve, durante toda a época do segundo Império, barões negros e índios, como revela Lilia Moritz Schwarcz:
Nas mãos de D. Pedro II, também em virtude do longo período de seu reinado, a nobreza ganharia um colorido todo especial. Não só os nomes indígenas, mas o perfil de seus componentes lembravam o caráter exótico da corte. Novos ricos da terra, profissionais liberais, alguns poucos negros (como o barão de Tijuca), ainda menos indígenas (como o barão de Guapi) artistas e literatos do círculo do monarca faziam da corte um grupo de amigos diletos – uma imagem de civilidade. (SCHWARCZ 1999, p.191)
Algumas das primeiras providências do recém instalado governo republicano foram exatamente no sentido da elitização do regime: caçar a patente do rei Obá – pois não ficava bem um negro ter patente do exército – e mudar a sede do governo para o palácio do catete, afastado do centro antigo e do odor das ruas, do cheiro do povo.
Conta-se que no dia 2 de dezembro [aniversário de D. Pedro], que seguiu-se à proclamação da República, o príncipe Oba, como de costume, dirigiu-se ao paço para cumprimentar o Imperador; que, encontrando as portas fechadas, ou sendo despedido, enfureceu-se e prorrompeu em ‘vivas’ e disparates. O que há nisso de autêntico não afirmamos; o que é certo, porém, é que o governo provisório cassou-lhe as honras de alferes, sobrevivendo ele apenas alguns meses a esse desgosto. (SCHWARCZ 1999, p. 286)
Como sabemos, anos depois, quando ocorreu a “regeneração” do Rio de Janeiro, os antigos casarões – que funcionavam como cortiços e abrigavam as camadas populares na região central da cidade – foram demolidos para dar lugar às grandes avenidas. Os pobres e marginalizados que ali viviam foram então empurrados para os morros, ao redor da cidade, dando origem ás primeiras favelas, que ainda existem. Na seqüência, um morro inteiro, o do Castelo, foi desmontado, para soterrar para sempre a memória do regime imperial e da convivência direta e próxima da corte com os trabalhadores braçais e a escravaria. A cidade se tornava menos negra e menos parda, para se tornar mais branca, mais européia.
Em seguida, o governo republicano perseguiu tudo o que se remetia à cultura popular, como o samba, as religiões afro-brasileiras, a serenata e até o violão!
As mudanças de comportamento eram imprescindíveis para a concretização da Regeneração e estavam compreendidas aí as condenações de antigos hábitos como a prática de serenatas, assim como as festas populares e religiosas: Bumba-meu-boi, festa da Glória, malhação de Judas, a boemia e até o uso do violão, instrumento associado à marginalidade carioca. (SILVA 2004, p. 58)
Sobre o cheiro do povo devemos lembrar inclusive que, em época muito mais recente, o general João Batista de Figueiredo, que governou o país de 1979 a 1984, disse que preferia o cheiro dos cavalos ao cheiro do povo...Foi ele também quem disse, ao deixar a presidência da República: “quero que me esqueçam!” Impossível, senhor presidente!
Mesmo republicanos históricos, de primeira hora, parecem ter se desencantado com a República real, recém-instalada, que ficava cada vez mais distante da República dos seus sonhos. O ideário positivista perdera terreno em relação aos anseios da aristocracia ruralista.
No sentido de ampliarmos o leque de possibilidades de discussão sobre o tema poderíamos concluir o nosso raciocínio demonstrando que havia numa mesma geração de intelectuais alguns que se identificavam com a proposta republicana, como Euclides da Cunha, e outros que tinham repulsa à mesma, como Lima Barreto, mas que, no decorrer do processo de implantação e sedimentação do regime republicano acabaram chegando a conclusões bastante próximas.
Euclides partiu de uma atitude francamente favorável ao novo regime (até porque veio da Escola Militar, reduto do abolicionismo e republicanismo) para no decorrer de sua produção desencantar-se. Lima Barreto, neto de escravos libertos, identificava a Monarquia com os ideais de liberdade e neste sentido nunca deixou de tecer críticas, bastante ácidas, ao regime instaurado por Deodoro.
Segundo vários autores, entre eles Schwarcz, havia uma grande identificação do regime imperial com a cultura popular, a qual estava muito presente e próxima aopoder, ao redor e mesmo dentro do próprio paço imperial. A República, ao contrário, segrega a cultura popular e elitiza o centro das decisões administrativas, instalando o Presidente no Palácio do Catete, relativamente afastado do velho centro da cidade do Rio de Janeiro, o qual, como dissemos, foi "regenerado".
Tanto Euclides como Lima Barreto, portanto, tinham a dizer contra a República, da sua excessiva centralização administrativa, da falta de permeabilidade à cultura popular e do isolamento social a que foram condenados determinados segmentos da população. (SILVA, 2004, pp. 106-107)
E ainda:
Os republicanos históricos baseavam a sua convicção e atuação nos pressupostos positivistas e numa determinada vertente do liberalismo - uma vez que acreditavam no papel nivelador da educação, encarada como meio para a equalização social - a "República real" demonstrou-se mais centralizada do que havia sido o Império e com concepções muito mais rígidas para com as camadas populares e suas manifestações culturais. A centralização política e a hipertrofia do poder executivo, que ficou patente, de forma marcante, nos dois primeiros governos republicanos, pareceu desagradar a Euclides da Cunha, que viu até mesmo seus antigos mestres despirem-se de sua ideologia e adotarem posturas mais pragmáticas. A "República da espada" foi substituída pela “República do café com leite”, onde reinou soberana a oligarquia formada pelos grandes latifundiários, paulistas e mineiros.
Nesse momento, de sedimentação dessa "República possível" o ideário
republicano ficou cada vez mais associado à manutenção do status quo, tendo havido ao longo do processo apenas a mudança de terminologia: o "barão" se transformou em "coronel", na bandeira o verde dos Bragança se tornou o verde de nossas matas e o amarelo dos Habsburgo se tornou o amarelo do nosso ouro e até o Hino imperial ganhou nova letra , mas manteve a melodia. (SILVA, 2004 pp. 98-99)
Ao ressaltarmos a atuação dos Conselhos na época imperial, o fazemos mediante o prisma de que:
A função social da escola é formar o cidadão, construir conhecimentos, atitudes e valores que tornem o estudante solidário, crítico, ético e participativo. A escola deve socializar o saber sistematizado, sem desprezar o saber popular. Os colegiados (dentre os quais o Conselho de Escola) visam a uma gestão democrática na escola, no sentido da consolidação da democracia participativa, pela via da definição de políticas educacionais que orientem a prática educativa e os processos de participação. A meta é a construção de uma escola pública democrática, plural e com qualidade social.
(...)Quaisquer representantes dos segmentos das comunidades escolar e local têm iniciativa de criação dos Conselhos Escolares.
Compõem o Conselho a direção da escola e a representação dos estudantes, dos pais ou responsáveis pelos estudantes, dos professores, dos trabalhadores em educação não docentes (funcionários) e da comunidade local.
Temos hoje em nossas escolas uma realidade fundamentalmente diferente daquela que se apresentava em 1991, quando os Conselhos foram criados. Naquela época o diretor, além de membro nato, era necessariamente o Presidente do Conselho. Não cabia eleição para este cargo.
Neste sentido, a democracia caminhou a passos largos. Hoje temos avôs que participam do Conselho, como o sr. Hugo da EMEF “Lourenço Bellocchio”, e que dão respeitabilidade ao colegiado.
A participação dos representantes das Associações Amigos de Bairro está contemplada em Estatuto e, em muitas escolas, os Conselhos articulam-se em várias frentes, formando Comissões, como Comissão Disciplinar, Comissão de Acompanhamento Pedagógico, etc.
A presença da mulher, se faz sentir de maneira marcante. Temos hoje mães, professoras e funcionárias que além de membros atuantes do Conselho, têm sido eleitas para o cargo de Presidente, nos respectivos Conselhos.
Diante desta nova realidade, que aponta para a gestão efetivamente colegiada da Escola Pública, podemos afirmar que os Conselhos são, de fato e de direito, escolas de democracia e de participação popular.
(CAPPELLANO, 2006)
Com este pequeno texto não pretendemos fazer a propaganda ou a apologia da monarquia mas sim contribuir para a discussão que se está construindo na moderna historiografia brasileira, de rever a transição do Império para a República. Desejamos também contribuir, de uma maneira mais genérica, para a discussão da democracia participativa, que deve ser um ideal a ser alcançado em superação à democracia representativa.
Professor Luiz Carlos Cappellano, junho de 2006.


sexta-feira, 17 de setembro de 2010

" Não tenho tempo pra mais nada, ser feliz me consome muito."
Clarice Lispector

terça-feira, 14 de setembro de 2010



       E nós estamos ainda no processo de aprender como fazer democracia.  E a luta por ela passa pela luta contra  todo tipo de autoritarismo (Freire, 2000a, p. 136). 

domingo, 12 de setembro de 2010

Para descontrair

Esta é uma mensagem dos professores
de uma escola da Califórnia que decidiram gravar na
secretária eletrônica da escola. A escola exige dos
alunos e dos pais responsabilidade pelas faltas
dos estudantes e pelo trabalho de casa. A escola e
os professores estão sendo processados por pais que querem
que seus filhos sejam aprovados mesmo com muitas faltas
e sem fazer os trabalhos escolares.

A MENSAGEM GRAVADA ERA SEGUINTE :

Olá! Para podermos ajudá-lo, por favor, ouça todas as opções:
- Para mentir sobre o motivo das faltas do seu filho - tecle 1

- Para inventar uma desculpa para seu filho não ter feito o trabalho de casa - tecle 2

- Para se queixar sobre o que nós fazemos - tecle 3
- Para insultar os professores - tecle 4
- Para saber por que não foi informado sobre o que consta
no boletim do seu filho ou em diversos documentos que lhe
enviamos - tecle 5
- Se quiser que criemos o seu filho - tecle 6
- Se quiser agarrar, esbofetear ou agredir alguém - tecle 7

- Para pedir um professor novo, pela terceira vez este ano - tecle 8
- Para se queixar do transporte escolar - tecle 9
- Para se queixar da alimentação fornecida pela escola - tecle 0

- Se você já compreendeu que este é o mundo real e que seu filho deve ser responsabilizado e é responsável pelo próprio comportamento, pelo seu trabalho na aula, pelas tarefas de casa, e que a culpa da falta de esforço do seu filho não é culpa
do professor, desligue e tenha um bom dia!!!



Você já ouviu falar na ESCOLA DA PONTE em Portugal? A escola dos sonhos existe!!!


Tive o prazer de ler sobre a ESCOLA DA PONTE, ela se localiza no norte de Portugal, a cerca de 30 km da Cidade do Porto, em uma vila chamada Vila Das Aves, com aproximadamente 10 mil habitantes. Essa escola nos faz certamente ter inveja, nos faz sonhar...quem sabe um dia não chegaremos lá? Hoje ela existe porque lá existe um professor que foi sonhador, idealizador e mais do que tudo, corajoso.
Gostaria que todos que visitassem meu blog vissem os vídeos, as entrevistas, etc sobre essa tão fabulosa escola.
 Esse endereço é do site da escola: http://www.escoladaponte.com.pt/html2/portug/local/local.htm , Vocês todos também vão amar conhecer essa escola, isto é, os que têm ideais de um dia ter as  nossas escolas e até mesmo a nossa educação mudada.
 " Somos do tamanho de nossos sonhos "
Fernando Pessoa

sábado, 11 de setembro de 2010

Por que é tão difícil escolher?






Por acaso na sua escola acontece isso??

Texto de Jason Abrahão


Omissão: a missão?

Jason Abrahão

Administrador (UFRRJ), MBA em Gestão do Conhecimento e Inteligência Empresarial (COPPE), Change Management (Geo Soluções e BearingPoint), Arte terapeuta, Coach Pessoal e Executivo. Com larga atuação em processos e projetos de estratégia e gestão de pessoas; sua experiência corporativa converge para um repertório de conhecimentos diversificados, orientados para temas como Gestão de Alta Performance e Convivencialidade. Sua carreira se desenvolveu em empresas de médio e grande porte, nacionais e multinacionais, nos segmentos de química fina, mineração e serviços, com projetos de direcionamento estratégico, sucessão, change management, ERM, cargos críticos, prontidão de talentos, seleção, desenvolvimento e performance. Atualmente é coach e consultor.+ textos de Jason Abrahão
Começamos 2010 com pelo menos dois desastres naturais que marcaram forte presença na mídia: as avalanches de terra em Angra dos Reis no Rio de Janeiro e o terremoto no Haiti.
Antes que alguém decrete como fatalidade, vamos analisar os fatos: em ambos os casos, houve aviso a respeito das áreas de risco e também sobre as atividades tectônicas naquela região do Caribe.
O que marca esses eventos, fora a força da natureza e o drama do sofrimento causado por perdas irreparáveis das vidas que se foram? A omissão.
A omissão é um ato de postergação, indiferença ou fuga de conflitos, sendo raro nos dias de hoje a omissão por ignorância das causas (afinal, estamos na era da informação e do conhecimento, certo? O ouro branco do momento). Se você for analisar, a omissão lhe persegue no dia-a-dia, seja lhe colocando na posição de algoz ou de vítima.
- Sabe a troca daquele equipamento solicitado ao gerente há meses atrás? Pois é, ele quebrou e vai atrasar a entrega de um importante pedido do cliente.
 Sabe aquele operador que, volta e meia víamos trabalhando sem EPI (Equipamento de Proteção Individual)? Pois é, ele está ferido no hospital e hoje vão enterrar o parceiro de trabalho dele.
- E aquele ponto da estratégia que você alertou várias vezes por e-mail e durante a reunião para os seus pares e superiores? Pois é, o concorrente estava mais preparado, e como ninguém levou em consideração os alertas, perdemos a conta do cliente.
- E aquele assédio moral que você vinha recebendo, ou o direcionamento de recursos de forma injusta, ou o discurso diferente da prática que o seu gerente ou você mesmo faz?
A vida mais cedo ou mais tarde nos coloca diante do cruel resultado das omissões. Ontem assisti um comentário do Arnaldo Jabor que delineou toda a história de omissões e descaso da política haitiana, e fechou com uma sentença perfeita que destaco a seguir:
"Como democratizar um país miserável analfabeto com raízes tribais africanas bárbaras, dominada por ditaduras corruptas que tiraram tudo do país?
Haiti não é aqui, mas o Haiti é uma espantosa caricatura de contradições que existem em países da América Latina.
Só que lá, tudo se passa como no fundo do inferno.
Mas Deus é culpado pela miséria absoluta do Haiti? Não. O terremoto humano de três séculos foi pior.
Existem tragédias de Deus e tragédias dos homens. Quando as duas se encontram temos o horror absoluto".
Se o Haiti é exemplo do fundo do poço, onde a fatalidade dá a omissão toques surrealistas, o que podemos dizer da sociedade que estamos construindo?
Certa vez eu estava em um workshop de análise dos indicadores da Pesquisa Brasileira de Gestão de Pessoas, promovido pela Sextante Brasil. Estávamos debatendo a respeito de um gráfico em particular, que mostrava o crescente investimento das empresas em segurança do trabalho. Num determinado ponto do gráfico, a redução dos acidentes parava de responder aos investimentos em equipamentos de proteção, manutenções, campanhas etc. A partir daquele ponto, o número de acidentes voltava a crescer. Por quê? Todos perguntavam. Questionei então que podemos investir até certo ponto naquilo tudo, mas chega um determinado momento que só uma coisa faz a diferença: a atitude. E isso depende da pessoa que zela pela própria integridade. Se ela se omitir e ficar indiferente aos padrões de segurança, equipamentos e campanhas, a empresa começa a perder o retorno sobre o investimento. É aí que está o ponto. As pessoas omitem por si e pelos outros. Em uma empresa que trabalhei, reduzimos sensivelmente a incidência de acidentes com a prática de observadores comportamentais implantada pela consultoria Comportamento. Simplesmente porque a prática exigia uma postura ativa de quem presenciava uma atitude insegura, não havia espaço para omissões e isso era incentivado inclusive por metas.
O brasileiro tem mania de eufemismos e adotou o politicamente correto como prática para sua já costumaz mania de evitar conflitos. É a cultura do "deixa disso" ou "deixa pra lá". Se você se declarar contrário ao status quo, ou representar uma ameaça a ele, vira imediatamente o estranho no ninho e logo é deflagrada uma oposição velada. Sim, porque nem para se opor, a não ser que haja poder nas mãos, o brasileiro o faz de peito aberto.
Estou mentindo? Não vou citar a nossa ação política, porque esse é o supra-sumo das omissões (Arruda agradece). Liste apenas os cinco maiores gargalos de gestão na sua empresa e me diga se a maioria não se resolve porque as pessoas pisam em ovos, fazem tráfico de influência ou simplesmente tem medo de retaliações daqueles cujo status quo é o seu porto seguro? Eu pelo menos posso me lembrar de inúmeras situações que não progrediram porque a outra pessoa simplesmente não estava interessada no progresso, e que quem podia fazer algo a respeito, simplesmente não apoiava ou não se envolvia para não entrar em conflito com a outra.
O que você faz nessa hora? Ou vira mártir ou então adota o lema "dos incomodados que se mudem". Ficar parado reclamando é que não dá (aliás, o esporte preferido do nosso povo).
Eu sei que muitas vezes não dá para ser super-herói, e nem recomendo essa fantasia para você. Ao contrário, eu recomendo algo que já recomendei várias vezes, porque acredito no seu exemplo de vida: Gandhi.
Gandhi nos deu o exemplo com sua própria vida e nos deixou uma grande lição: "Faça da sua vida a revolução que deseja para o mundo".
Como? No âmbito do seu alcance mais imediato. Seja na família, na sua comunidade, com os amigos e com o seu próprio estilo de vida.
Eu me dedico semanalmente a atender estudantes de universidade pública como arte terapeuta e reikiano; adotei, com muito esforço, uma atividade física diária; medito todos os dias; dedico-me a manter uma atitude positiva em relação a mim e aos outros, busco a todo instante melhorar algum aspecto negativo do meu jeito de ser e me esforço em ter uma vida simples, sem reverências a convenções sem sentido ou manias da sociedade consumista. Não quero ser santo, só não quero sofrer e fazer mal aos outros (não faça com os outros, o que não gostaria que fizessem contigo, já dizia minha mãe). É um trabalho duro, não é fácil, mas sinto que ainda fiz pouco, e que posso mais.
A minha missão é contribuir para que o outro encontre a verdade, a partir de si mesmo. Atuar como um pontífice e construir pontes entre pessoas. Ser um catalisador do entusiasmo, prosperidade e auto-realização.
E você, porque está aqui? Se você partisse hoje deste mundo, se orgulharia da sua atuação como ator ativo ou foi simplesmente um sobrevivente? Aqueles que estão meramente preocupados com a sua sobrevida e não com a vida bem vivida, são os mais passíveis de se omitirem, seja por postergação, indiferença ou simplesmente fuga. Afinal, para quem não sabe aonde ir, qualquer caminho serve.
Esse artigo é um alerta. Não se omita, pois a vítima pode ser você.


A escola dos sonhos existe :

Crises de Lideranças -Viviane Mosé

Nós gastamos de dizer que somos todos iguais, mas não somos. A necessidade de igualar as coisas ao contrário de fortalecer apenas enfraquece a sociedade. Igualar é na verdade negar as diferenças eliminando os que se destacam. Nossa formação de “identidades” parte de um modelo que nos nivela por baixo. Se a educação valorizasse as aptidões e talentos individuais, se valorizasse as diferenças possibilitaria o desenvolvimento de lideranças, que hoje são escassas em todos os níveis: político, social, intelectual, artístico, corporativo, etc. Se as lideranças não são estimuladas então lideram, não quem tem potência e aptidão, mas quem é mais esperto, ou amigo do chefe, ou que angaria votos. Nem na arte, nem na política, nem nas empresas prevalece a competência, o talento, mas a esperteza, a manipulação.
A candidatura de celebridades é apenas um retrato do circo que virou o processo eleitoral, há décadas; a candidatura resulta da capacidade que o cidadão pode ter de vencer o processo eleitoral e não de seu espírito público, de sua capacidade de pensar o todo, de sua liderança e ética, de sua grandiosidade humana, de sua inteligência e visão crítica. Costumamos dizer que os políticos são todos iguais, talvez hoje a maioria seja mesmo, mas isto resulta, não da incapacidade humana de liderar com ética e responsabilidade, mas de nossa incapacidade social de estimular a formação de lideranças capazes e competentes. Em outras palavras, de um processo educativo sustentado na passividade, na submissão, na reprodução de um modelo.
Viviane Mosé
Por alguns dias postarei aqui algumas coisas sobre Viviane Mosé, uma mulher inteligente, realista, que acredita na vida e nas pessoas e principalmente em mudanças,começarei apresentando um pouco quem é essa mulher e seu trabalho.

Biografia

Viviane Mosé é capixaba e vive no Rio desde 1992. Psicóloga e psicanalista é especialista em elaboração de políticas pela Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes).
Mestra e doutora em filosofia pelo Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Viviane é autora do livro “Stela do Patrocínio - Reino dos bichos e dos animais é o meu nome”, publicado pela Azougue Editorial e indicado ao prêmio Jabuti de 2002, na categoria psicologia e educação.
Organizou, junto com Chaim Katz e Daniel Kupermam o livro “Beleza, feiúra e psicanálise” (Contracapa, 2004). Participou da coletânea de artigos filosóficos “Assim Falou Nietzche” (Sette Letras, Ufop, 1999). Publicou em 2005, sua tese de doutorado, “Nietzsche e a grande política da linguagem”, pela editora Civilização Brasileira. Escreve e apresenta o quadro “Ser ou não ser”, no programa “Fantástico”, da Rede Globo, onde aborda temas de filosofia para a linguagem cotidiana.
Como poeta, participou das coletâneas “Saco de Gatos” (Ímã,1985) e “7+1” (Francisco Alves, 1997). Publicou seu primeiro livro individual em Vitória, “ES, Escritos”, ( Ímã e Ufes, 1990). Publicou, no Rio, “Toda Palavra”, (Sette Letras, 1997), e “Pensamento Chão” (Sette Letras, 2001), todos esgotados. Publicou, ainda, Receita pra lavar palavra suja (Arte Clara, 2004). Participou, em 1999, do “livro Imagem Escrita” (Graal, 1999), coletânea de artistas plásticos e poetas, escrevendo sobre o trabalho do artista plástico Daniel Senise.
Ministra palestras e workshops para instituições e empresas como Centro Cultural Banco do Brasil, Editora Abril, Fundação Oswaldo Cruz, Rede Globo de Televisão, Net, Petrobrás, entre outros.

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

REPORTAGEM- José Pacheco e a Escola da Ponte

O educador português conta como é a Escola da Ponte, em que não há turmas, e diz que quem quer inovar deve ter mais interrogações que certezas



Cristiane Marangon (Cristiane Marangon)


José Pacheco não é o primeiro — e nem será o último — a desejar uma escola que fuja do modelo tradicional. Ao contrário de muitos, no entanto, o educador português pode se orgulhar por ter transformado seu sonho em realidade. Há 28 anos ele coordena a Escola da Ponte. Apesar de fazer parte da rede pública portuguesa, a escola de ensino básico, localizada a 30 quilômetros da cidade do Porto, em nada se parece com as demais.
A Ponte não segue um sistema baseado em seriação ou ciclos e seus professores não são responsáveis por uma disciplina ou por uma turma específicas. As crianças e os adolescentes que lá estudam — muitos deles violentos, transferidos de outras instituições — definem quais são suas áreas de interesse e desenvolvem projetos de pesquisa, tanto em grupo como individuais.
A cada ano, as crianças e os jovens criam as regras de convivência que serão seguidas inclusive por educadores e familiares. É fácil prever que problemas de adaptação acontecem. Há professores que vão embora e alunos que estranham tanta liberdade. Nada, no entanto, que faça a equipe desanimar.
O sistema tem se mostrado viável por pelo menos dois motivos: primeiro, porque os educadores estão abertos a mudanças; segundo, porque as famílias dos alunos apóiam e defendem a escola idealizada por Pacheco.
Quando jovem, esse educador de fala mansa não pensava em lecionar. Queria ser engenheiro eletrônico. Mas uma questão o inquietava: por que a escola ainda reproduzia um modelo criado há 200 anos? Na busca por uma resposta, se apaixonou pelo magistério. "Percebi que na engenharia teria menos a descobrir, enquanto na educação ainda estava tudo por fazer." Desse "tudo" de que tem se incumbido o professor Zé, como gosta de ser chamado, é que trata a entrevista a seguir, concedida à ESCOLA em São Paulo.
A Escola da Ponte é bem diferente das tradicionais.

 Como ela funciona?
JOSÉ PACHECO Lá não há séries, ciclos, turmas, anos, manuais, testes e aulas. Os alunos se agrupam de acordo com os interesses comuns para desenvolver projetos de pesquisa. Há também os estudos individuais, depois compartilhados com os colegas. Os estudantes podem recorrer a qualquer professor para solicitar suas respostas. Se eles não conseguem responder, os encaminham a um especialista.

Existem salas de aula?

PACHECO Não há salas de aula, e sim lugares onde cada aluno procura pessoas, ferramentas e soluções, testa seus conhecimentos e convive com os outros. São os espaços educativos. Hoje, eles estão designados por área. Na humanística, por exemplo, estuda-se História e Geografia; no pavilhão das ciências fica o material sobre Matemática; e o central abriga a Educação Artística e a Tecnológica.

A arquitetura mudou para acompanhar o sistema de ensino?

PACHECO Não. Aliás, isso é um problema. Nosso sonho é um prédio com outro conceito de espaço. Temos uma maquete feita por 12 arquitetos, ex-alunos que conhecem bem a proposta da escola. Esse projeto inclui uma área que chamo de centro da descoberta, onde compartilharemos o que sabemos. Há também pequenos nichos hexagonais, destinados aos pequenos grupos e às tarefas individuais. Estão previstas ainda amplas avenidas e alguns cursos d'água, onde se possa mergulhar os pés para conversar, além de um lugar para cochilar. As novas tecnologias da informação devem estar espalhadas por todos os lados para ser democraticamente utilizadas pela comunidade, o que já conseguimos.

Os professores precisam de formação específica para lecionar lá?


PACHECO Não. Eles têm a mesma formação que os de outras instituições. O diferencial é que sentem uma inquietação quanto à educação e admitem existir outras lógicas. Nossa escola é a única no país que pode escolher o corpo docente. Os candidatos aparecem geralmente como visitantes e perguntam o que é preciso para dar aulas lá. Digo apenas para deixarem o nome. No fim de cada ano fazemos contato. Hoje somos 27, cada um com suas especializações.

Como os novos professores se adaptam à proposta da escola?


PACHECO Há profissionais que estiveram sozinhos em sala durante anos e quando chegam constatam que sua formação e experiência servem para nada. De cada dez que entram, um não agüenta. Outros desertam e regressam depois. Mas nós também, por vezes, temos que nos adaptar. Há dois anos recebemos muitas crianças e professores novos, não familiarizados com a nossa proposta. Apenas a quinta parte do corpo docente já estava lá quando isso aconteceu. Passamos a conviver com mestres que sabiam dar aula e estudantes que sabiam fazer cópias. Foi necessário dar dois ou três passos para trás para que depois caminhássemos todos juntos. Precisamos aceitar o que os outros trazem e esperar que eles acreditem em nossas idéias. Essa é a terceira vez que passamos por isso.

Qual o perfil dos alunos atendidos pela Escola da Ponte?


PACHECO Eles têm entre 5 e 17 anos. Cerca de 50 (um quarto do total) chegaram extremamente violentos, com diagnósticos psiquiátricos e psicológicos. As instituições de inserção social que acolhem crianças e jovens órfãos os encaminham para as escolas públicas. Normalmente eles acabam isolados no fundo da classe e, posteriormente, são encaminhados para nós. No primeiro dia, chegam dando pontapés, gritando, insultando, atirando pedras. Algum tempo depois desistem de ser maus, como dizem, e admitem uma das duas hipóteses: ser bom ou ser bom.

Como os estudantes vindos de outras escolas se integram a um sistema tão diferente?


PACHECO Não é fácil. Há crianças e jovens que chegam e não sabem o que é trabalhar em grupo. Não conhecem a liberdade, e sim, a permissividade. Não sabem o que é solidariedade, somente a competitividade. São ótimos, mas ainda não têm a cultura que cultivamos. Quando deparam com a possibilidade de definir as regras de convivência que serão seguidas por todos ou não decidem nada ou o fazem de forma pouco ponderada. Em tempos de crise, como agora, em que muitos estão nessa situação, precisamos ser mais diretivos. Só para citar um exemplo, recebemos um garoto de 15 anos que tinha agredido seu professor e o deixado em estado de coma. Como um jovem assim pode, de imediato, participar da elaboração de um sistema de direitos e deveres?


A escola nem sempre seguiu uma proposta inovadora. Como ocorreu a transformação?


PACHECO Até 1976, a escola era igual a qualquer outra de 1ª a 4ª série. Cada professor ficava em sua sala, isolado com sua turma e seus métodos. Não havia comunicação ou projeto comum. O trabalho escolar era baseado na repetição de lições, na passividade. Naquele ano, havia três educadores e 90 estudantes. Em vez de cada docente adotar uma turma de 30, juntamos todos. Nosso objetivo era promover a autonomia e a solidariedade. Antes disso, porém, chamamos os pais, explicamos o nosso projeto e perguntamos o que pensavam sobre o assunto. Eles nos apoiaram e defendem o modelo até hoje.


Qual é a relação dos pais com a escola?


PACHECO Eles participam conosco de todas as decisões. Se nos rejeitarem, teremos de procurar emprego em outro lugar. Também defendem a escola perante o governo. Neste momento, os pais estão em conflito com o Ministério da Educação. Ao longo desses quase 30 anos, quiseram acabar com nosso projeto. Eu, como funcionário público, sigo um regime disciplinar que me impede de tomar posições que transgridam a lei, mas o ministro não tem poder hierárquico sobre as famílias. Portanto, se o governo discordar de tudo aquilo que fazemos, defronta-se com este obstáculo: os pais. Eles são a garantia de que o projeto vai continuar.

Como sua escola é vista em Portugal?


PACHECO Há uma grande resistência em aceitar o nosso modelo, que é baseado em três grandes valores: a liberdade, a responsabilidade e a solidariedade. Algumas pessoas consideram que todos precisam ser iguais e que ninguém tem direito a pensamento e ação divergentes. Há quem rejeite a proposta por preconceito, mas isso nós compreedemos porque também temos os nossos. A diferença é que nós nunca colocamos em cheque o trabalho dos outros. Consideramos que quem nos ataca faz isso porque não foi nosso aluno e não aprendeu a respeitar o ponto de vista alheio.


Qual é o segredo de sucesso da proposta seguida pela Ponte?


PACHECO Nós acreditamos que um projeto como o nosso só é viável quando todos reconhecem os objetivos comuns e se conhecem. Isso não significa apenas saber o nome, e sim ter intimidade, como em uma família. É nesse ponto que o projeto se distingue. O viver em uma escola é um sentimento de cumplicidade, de amor fraterno. Todos que nos visitam dizem que ficam impressionados com o olhar das pessoas que ali estão, com o afeto e a palavra terna que trocam entre si. Não sei se estou falando de educação ou da minha escola, mas é isso o que acontece lá.


O modelo da Escola da Ponte pode ser seguido por outras escolas?


PACHECO Não defendo modelos. A Escola da Ponte fez o que as outras devem e podem fazer, que é produzir sínteses e não se engajar em um único padrão. Não inventamos nada. Estamos em um ponto de redundância teórica. Há muitas correntes e quem quer fazer diferente tem de ter mais interrogações do que certezas. Considero que na educação tudo já está inventado. A Escola da Ponte não é duplicável e não há, felizmente, clonagem de projetos educacionais.


Hoje a escola pode funcionar sem o senhor?


PACHECO Fui e continuo sendo um intermediário. Não tenho mérito por isso, apenas cumpro a minha missão. Vou me afastar dentro de um ano e estou amargamente antecipando essa despedida. Todo pai tem de deixar o filho andar por si próprio e, nesse momento, a Ponte caminha sozinha. Depois quero continuar desassossegando os espíritos em lugares onde há gente generosa, que só precisa de um louco com a noção da prática, como eu. Agora ninguém pode dizer que uma experiência como a da Escola da Ponte não aconteceu, porque ela existe e provamos que é possível.